Salvação: Os três tempos no plano de Deus
Arlei Carvalho
6/13/202412 min read


A doutrina da salvação é uma das mais preciosas e fundamentais no cristianismo. Enraizada nas Escrituras e na tradição dos grandes teólogos da Reforma, tal doutrina nos oferece uma visão clara e profunda do plano de salvação de Deus. Um dos aspectos mais notáveis dessa doutrina é a compreensão dos “três tempos” da salvação: passado, presente e futuro. Estes tempos nos ajudam a entender a obra completa de Deus em nossas vidas, desde a eleição até a glorificação.
1.Salvação Passada: Justificação
A primeira fase do plano de salvação de Deus ocorre no passado e é conhecida como justificação. Justificação é um ato legal de Deus pelo qual Ele declara o pecador justo com base na justiça de Cristo. É um evento singular que acontece no momento em que uma pessoa coloca sua fé em Jesus Cristo. Efésios 2:8-9 nos diz: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie.”
A justificação é possível porque Jesus, o Filho de Deus, viveu uma vida perfeita de obediência à Lei e morreu em uma cruz pelos nossos pecados. Sua ressurreição é a garantia de nossa justificação. Romanos 5:1 declara: “Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo.” A justificação é um ato forense, onde Deus, o Juiz, declara alguém justo com base na justiça imputada de Cristo. Isso é diferente de tornar alguém justo internamente, mas sim um ato declaratório.
A justiça de Cristo é creditada ao homem, e seus pecados são lançados sobre Cristo. Esta dupla imputação é fundamental para a doutrina da justificação. Isto é um ato de graça soberana. Não é baseada em qualquer mérito humano, mas inteiramente na obra redentora de Cristo. Efésios 2:8-9 enfatiza que a salvação é um dom de Deus, não baseado em obras realizadas por nós. A Confissão de Fé Batista de 1689 afirma que “Os que Deus eficazmente chama, Ele também livremente justifica, não por infundir neles justiça, mas perdoando seus pecados e considerando e aceitando suas pessoas como justas; não por qualquer coisa neles realizada ou feita por eles, mas unicamente por causa de Cristo; nem por imputar-lhes fé em si, o ato de crer, ou qualquer outra obediência evangélica, como sua justiça; mas imputando-lhes a obediência ativa de Cristo a toda a Lei, e a obediência passiva em sua morte por sua completa e única justiça, eles recebendo e repousando nEle e em sua justiça pela fé; a qual não têm de si mesmos, é dom de Deus” (CFB 1689, Capítulo 11, Seção 1).
Tal doutrina está profundamente enraizada na obra redentora de Cristo. Jesus viveu em perfeita obediência à Lei, algo que nós, como pecadores, jamais poderíamos alcançar. Sua vida sem pecado é a base para nossa justificação, conforme 2 Coríntios 5:21: “Aquele que não conheceu pecado, Ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus.” Além disso, a morte de Cristo na cruz foi substitutiva, significando que Ele tomou sobre si os nossos pecados e sofreu a pena que merecíamos. Este ato de amor supremo é evidenciado em 1 Pedro 2:24: “Carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós, mortos para os pecados, vivamos para a justiça; por suas chagas fostes sarados.”
A ressurreição de Cristo é a confirmação e garantia de nossa justificação. Em Romanos 4:25, lemos: “o qual foi entregue por causa das nossas transgressões, e ressuscitou por causa da nossa justificação.” A ressurreição é a prova de que Deus aceitou o sacrifício de Cristo como pagamento pleno pelos nossos pecados, assegurando que aqueles que creem nEle são justificados. Portanto, a justificação é um ato da graça soberana, completamente independente do mérito humano. Efésios 2:8-9 reforça que a salvação é um dom de Deus, não baseado em obras, para que ninguém se glorie.
Este entendimento é claramente expresso na Confissão de Fé Batista de 1689, que declara que Deus, em Seu chamado eficaz, justifica os pecadores não por infundir neles justiça, mas perdoando seus pecados e aceitando-os como justos somente por causa de Cristo. Isso não é devido a qualquer coisa realizada ou feita por eles, mas unicamente por causa da obediência ativa de Cristo a toda a Lei e a obediência passiva em sua morte, sendo esta a completa e única justiça que é imputada ao crente.
Assim, a justificação é a fase inicial da salvação, fundamentada na obra perfeita de Cristo. Ela nos garante paz com Deus e a certeza da vida eterna. Como um ato declaratório, baseado na soberania de Deus, a justificação não depende de nossas obras, mas inteiramente na fé em Jesus Cristo.
2.Salvação Presente: Santificação
A segunda fase da salvação é a santificação, que ocorre no presente. Diferentemente da justificação, que é um ato instantâneo, a santificação é um processo contínuo pelo qual os justos são gradualmente conformados à imagem de Cristo. Este processo começa no momento da justificação e continua ao longo de toda a vida do cristão. Filipenses 2:12-13 nos exorta: “Assim, pois, amados meus, como sempre obedecestes, não só na minha presença, porém muito mais agora, na minha ausência, desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade.” A santificação é uma obra do Espírito Santo em nós, que nos capacita a viver de acordo com a vontade de Deus, mortificando o pecado e cultivando o fruto do Espírito (Gálatas 5:22-23).
A santificação é progressiva, significando que os crentes crescem gradualmente na santidade e no conhecimento de Deus. Esse crescimento é um sinal de uma vida espiritual saudável. O chamado é a cooperar ativamente com o Espírito Santo nesse processo. Embora Deus seja quem efetua o querer e o realizar, o crente deve se esforçar diligentemente em sua caminhada cristã, buscando a santidade e a conformidade à vontade de Deus. A santificação inclui tanto a mortificação do pecado quanto a vivificação para a justiça. Romanos 6:11-14 fala sobre considerar-se morto para o pecado e vivo para Deus em Cristo Jesus: “Assim também vós considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus. Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, de maneira que obedeçais às suas paixões; nem ofereçais cada um os membros do seu corpo ao pecado, como instrumentos de iniquidade; mas oferecei-vos a Deus, como ressurretos dentre os mortos, e os vossos membros, a Deus, como instrumentos de justiça. Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e sim da graça.”
Na confissão de fé batista, encontramos a seguinte declaração: “Aqueles que são chamados eficazmente e regenerados, tendo um novo coração e um novo espírito criado neles, são além disso santificados, realmente e pessoalmente, através da virtude da morte e ressurreição de Cristo, pela sua Palavra e Espírito habitando neles; o domínio de todo o corpo do pecado é destruído, e suas várias concupiscências são cada vez mais enfraquecidas e mortificadas, e eles são mais e mais vivificados e fortalecidos em toda a graça salvadora, para a prática da verdadeira santidade, sem a qual ninguém verá o Senhor” (CFB 1689, Capítulo 13, Seção 1).
A santificação é uma evidência da obra contínua de Deus na vida do cristão, moldando-o à imagem de Seu Filho. À medida que o Espírito Santo opera no interior do crente, este é capacitado a mortificar o pecado, renunciando às antigas paixões e desejos pecaminosos, e a viver para a justiça, evidenciando o fruto do Espírito em sua vida diária. Este processo de transformação contínua é vital para uma vida piedosa, pois, sem santidade, ninguém verá o Senhor (Hebreus 12:14). Portanto, a santificação não é apenas uma obrigação, mas uma promessa da fidelidade de Deus em completar a obra que Ele começou em nós (Filipenses 1:6).
A santificação, portanto, é uma jornada de crescimento espiritual que requer a cooperação ativa entre o homem e o Espírito. É um processo que envolve a destruição gradual do domínio do pecado e o fortalecimento contínuo nas graças salvadoras, resultando em uma vida que glorifica a Deus. Como cristãos, somos chamados a nos submeter à obra do Espírito Santo em nós, buscando diligentemente a santidade e permitindo que Deus nos transforme à imagem de Cristo, para que possamos viver de maneira digna do chamado que recebemos.
3.Salvação Futura: Glorificação
A terceira e última fase do plano de salvação de Deus é a glorificação, e esta, ocorrerá no futuro. A glorificação é a culminação da salvação, quando os crentes serão finalmente libertos da presença do pecado e receberão corpos glorificados. Esta esperança é firmemente ancorada na promessa da ressurreição dos mortos e na volta de Cristo. 1 Coríntios 15:51-52 que nos assegura: “Eis que vos digo um mistério: nem todos dormiremos, mas transformados seremos todos, num momento, num abrir e fechar de olhos, ao ressoar da última trombeta. A trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados.” A glorificação completa a obra de Deus em nós, assegurando que seremos perfeitamente conformados à imagem de Cristo e habitaremos com Ele para sempre.
Na glorificação, os crentes experimentarão uma transformação física significativa. Receberão corpos ressuscitados e glorificados, como descrito em 1 Coríntios 15:42-44: “Semeia-se corpo corruptível, ressuscita-se corpo incorruptível; semeia-se em desonra, ressuscita-se em glória; semeia-se em fraqueza, ressuscita-se em poder; semeia-se corpo natural, ressuscita-se corpo espiritual.” Esta transformação marca a transição de corpos corruptíveis, sujeitos à decadência e à morte, para corpos incorruptíveis, perfeitos e imortais.
A glorificação também representa a libertação final e completa da presença do pecado, onde os crentes não mais lutarão contra os seus efeitos devastadores. A santificação, que começou na vida presente, será consumada na glorificação, resultando em uma santidade perfeita e sem mácula. Além disso, a glorificação assegura a comunhão plena e eterna com Deus. Apocalipse 21:3-4 descreve este estado eterno: “Então, ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles. E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram.” Esta visão gloriosa revela um futuro onde Deus habitará com Seu povo, e todas as coisas serão renovadas, sem mais sofrimento ou morte.
Romanos 8:30 resume perfeitamente os três tempos da salvação: “E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou.” Esta cadeia de eventos, conhecida como a “cadeia de ouro” da salvação, demonstra a segurança e a certeza da nossa salvação em Cristo. Cada etapa é garantida pela obra soberana de Deus, assegurando que aqueles que são chamados por Deus serão finalmente glorificados.
A CFB 1689 afirma: “Esta comunhão em glória com Cristo, que no presente é iniciada em sua santificação, é consumada na glorificação, quando são libertados perfeitamente do pecado e são aperfeiçoados em sua santidade” (Capítulo 13, Seção 3). Este ensinamento destaca que a santificação presente é apenas o início de uma comunhão mais plena que será realizada na glorificação.
Sendo assim, a glorificação é, portanto, a fase final da salvação, onde os crentes alcançarão a perfeição em santidade e viverão eternamente na presença de Deus, livres de todo pecado e sofrimento. Este é o clímax da esperança cristã, ancorado nas promessas de Deus e na obra redentora de Jesus Cristo.
Compreender os tempos da salvação tem implicações práticas profundas para a vida cristã. Cada tempo não é apenas uma doutrina teológica abstrata, mas uma realidade viva que molda nossa caminhada diária com Deus.
Resultados práticos do agir de Deus em nós:
Saber que fomos justificados nos dá uma base firme de segurança e identidade em Cristo. A justificação é um ato de Deus que nos declara justos com base na obra redentora de Jesus. Essa verdade deve influenciar profundamente como nos vemos e assim, como vivemos. A segurança da salvação é uma bênção maravilhosa que nos dá confiança e paz. Jesus nos assegura em João 10:28-29: “Eu lhes dou a vida eterna, e jamais perecerão; ninguém as poderá arrancar da minha mão. Meu Pai, que as deu para mim, é maior do que todos; ninguém as pode arrancar da mão de meu Pai.” Esta certeza nos conforta, sabendo que nada pode nos separar do amor de Deus em Cristo Jesus (Romanos 8:38-39).
Já a partir da justificação, temos uma nova identidade em Cristo. Não estamos mais presos aos nossos pecados passados, mas somos novas. 2 Coríntios 5:17 declara: “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.” Esta nova identidade nos leva a viver com gratidão e a servir a Deus, conscientes de que fomos perdoados e redimidos.
Na santificação desfrutamos de um processo contínuo e diário onde o Espírito Santo em nós, nos molda à imagem de Cristo. Neste tempo da salvação somos chamados a uma vida de compromisso e esforço espiritual. Embora a santificação seja uma obra de Deus, ela requer nossa cooperação ativa. Filipenses 2:12-13 nos lembra de “desenvolver a nossa salvação com temor e tremor, pois é Deus quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade.” Devemos buscar diligentemente as disciplinas espirituais como a oração, a leitura da Bíblia, a comunhão com outros cristãos e a participação nos sacramentos.
A santificação também nos chama a vencer o pecado. Romanos 6:11-12 nos exorta: “Assim também vós considerai-vos como mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus nosso Senhor. Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, para que obedeçais às suas paixões.” Devemos ser vigilantes e diligentes em resistir às tentações e buscar uma vida de pureza e santidade.
Para tal, o Espírito evidencia Sua presença em nós conforme Gálatas 5:22-23 descreve: “Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio.” Devemos permitir que o Espírito Santo produza tais qualidades em nós, nos permitindo assim refletir o caráter de Cristo em nossas interações diárias.
Na glorificação encontramos a esperança futura de todo cristão. Esta esperança nos dá a perspectiva correta e nos motiva a perseverar na fé. Sabedores que um dia seremos completamente libertos da presença do pecado e estaremos com Cristo em glória. 1 João 3:2-3 nos lembra: “Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque assim como é o veremos. E qualquer que nele tem esta esperança purifica-se a si mesmo, como também ele é puro.” Esta esperança nos motiva a perseverar nas dificuldades e a viver de maneira justa e santa.
Viver à luz da glorificação nos dá um senso de propósito e missão. Sabemos que nossa vida aqui é temporária e que estamos a caminho de algo muito maior. Filipenses 3:20-21 nos diz: “Mas a nossa cidade está nos céus, de onde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso, segundo o seu eficaz poder de até sujeitar a si todas as coisas.” Vivemos com os olhos fixos na eternidade, investindo nosso tempo, talentos e recursos no Reino de Deus.
A esperança na glorificação nos faz anelar a volta de Cristo. Apocalipse 22:20 expressa essa expectativa: “Aquele que testifica estas coisas diz: Certamente cedo venho. Amém. Ora vem, Senhor Jesus.” Este anseio nos mantém vigilantes e prontos, vivendo em santidade e cumprindo a missão que Cristo nos deu.
A compressão sobre os tempos da salvação deve moldar profundamente nossa vida cristã, dando-nos segurança, propósito e esperança enquanto caminhamos com Deus.
Concluímos assim que, a correta entendimento dos três tempos da salvação é vital para uma vida cristã equilibrada e robusta. A justificação nos dá uma base segura e uma nova identidade em Cristo, preenchendo-nos com a confiança de que nossa salvação é garantida. A santificação nos chama a uma cooperação ativa com o Espírito Santo, capacitando-nos a crescer em santidade e refletir o caráter de Cristo. A glorificação nos enche de esperança e propósito, lembrando-nos da promessa futura de sermos libertos da presença do pecado e de habitarmos eternamente com Deus.
Essas verdades não são meramente teológicas, mas realidades vivas que influenciam como vivemos, pensamos e nos relacionamos com Deus e com os outros.
“Assim, somos chamados a viver com gratidão, compromisso e esperança, sabendo que o Senhor completará a boa obra que começou em nós até o dia de Cristo Jesus.”
Deus abençoe!


